sábado, 14 de maio de 2011

metáfora da toalha

A minha avó, às vezes, descreve-me uma imagem, uma metáfora, que para ela e para mim funciona muito bem.
Como já não a ouvia a falar-me dela há algum tempo, liguei-lhe e pedi que a repetisse mais uma vez.


ela repetiu. ela repetiu-se. repetiu-se porque eu lhe pedi. precisava. e porque a L precisava, também.
"quando alguém estende uma toalha branca, branquinha, numa mesa e, de repente, repara que no centro dessa mesma toalha está um ponto negro, escuro, provavelmente uma nódoa, deixa, nesse mesmo instante, de admirar a brancura da toalha e passa a focar-se na nódoa, que corresponde a, aproximadamente, 0.01% do total da toalha. de facto, o branco, que equivale a 99.9% do total deixou de ser valorizado, como se tivesse deixado de existir, como se a toalha não fosse praticamente branca. como se a toalha não fosse essencialmente branca".
considero esta imagem importante. sim, importante. e, ao mesmo tempo, um alerta para nós que pensamos que andamos por aqui perdidos em naturezas sem mundo. talvez andemos mesmo perdidos. mas acredito que começar a valorizar a brancura de nós próprios e daquilo que nos rodeia, das outras naturezas, com ou sem mundo, é essencial. devemo-nos focar no branco que nos constitui. porque a verdade é que, na generalidade, as coisas boas em nós são muito mais do que as coisas más.

a minha avó repetiu. repetiu-se. porque a neta dela precisava. eu precisava. e a L também.

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